terça-feira, 4 de novembro de 2008

Katherine

"Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu???"

Era uma vez uma bela rapariga de ascendência francesa... Katherine vivia no seu castelo, tentando fazer da sua vida um conto de fadas com final feliz.

Alta, esguia, cabelos loiros de que tinha o prazer de estar constantemente a mexer. Estava no final da adolescência, quando se via no espelho, a sua pose lembrava o busto de Marianne, heroína enérgica, guerreira, pacífica, protectora e maternal da pátria francesa. Ao vê-la entrar na sala, dentro da minha cabeça, soavam sempre estas palavras:


Liberté, Egalité, Fraternité!


Vestia-se como uma princesa, ora com lindos vestidos cheios de transparências (não tinha qualquer vergonha do seu corpo), ora com alguns fatos da mais alta costura francesa. Como ela mesmo dizia, as melhores coisas da vida têm sempre de vir muito bem embrulhadas.

Katherine tinha dois pretendentes. António, que provinha de muito boas famílias, primos afastados da Casa Real de Portugal, frequentava o castelo sempre a convite dos pais da bela princesa. Eles sempre desejaram que a filha contraísse matrimónio com ele, sonhando com a possibilidade de algum titúlo Real. Mas a corte de António contemplava muitas princesas, e para ele esta era mais uma apenas.

E existia também o Pedro. Moço muito comum, roçando o banal, sempre tinha dedicado a sua vida a amar Katherine. Ela era realmente a Rainha do seu Castelo a quem dedicava toda a vida. A quem dedicada todas as rosas que lhe oferecia diariamente. Apesar dos pais dela não gostarem muito da sua presença, a vontade da sua preciosa filha prevalecia. Katherine via no Pedro algo garantido, amava-o mas sabia que o amor dele estava certo, tão certo como a Lua vir brilhar na noite após o Sol adormecer. Há muito tempo que andavam a adiar a sua primeira relação, dizendo esperar por aquele momento mágico. O Pedro não pressionava, sabia no seu coração que a iria amar para sempre, e que teria todo o tempo do mundo para esperar por tão especial noite.

Mas nem sempre a Lua vem e numa certa noite o céu estava nublado e a Lua não apareceu...


Depois de imensas lavagens cerebrais, por parte dos seus pais, Katherine começa a acreditar realmente que o Pedro não seria o melhor para ela. António apercebeu-se deste ponto fraco, e no melhor estilo de Shakespeare, montou um pequeno teatro onde mostrou que era muito melhor do que o Pedro.

Este, estupidamente, não se apercebeu desta manobra, e ao continuar com a sua rotina, começou a sentir Katherine cada vez mais fria e irritada com ele. Ao sentir-se traído, depois de tantos anos de dedicação, ripostou, o que ainda o afastou mais da sua Rainha.

Então o António fez a sua jogada de Xeque-Mate, tombou o Rei Pedro, tornou-se ele mesmo o Rei do Castelo de Katherine. Criou artificialmente um ambiente especial e logo se apressou a pressioná-la para a sua primeira vez. Ela cedeu...

A armadilha tinha funcionado, dias depois foi a vez do António ficar frio e irritado com Katherine, até que se afastou por completo dela. Na sua bagagem já levava mais uma conquista e a importância de ter sido o primeiro homem dela. Semanas mais tarde, Katherine, voltou a falar com Pedro, profundamente arrependida de se ter entregue a um vigarista, pedindo a Pedro que este voltasse, dizendo que só ele tinha direito a ser o primeiro, como se uma pedra lançada, uma palavra dita ou uma oportunidade perdida pudessem voltar atrás.

Pedro já não era o mesmo doce, vivia agora na amargura de ter dedicado anos á sua princesa e esta o ter trocado por um aldrabão sem nunca ter sido sincera com ele, apenas o afastando da sua vida sem qualquer explicação. Durante anos, separados, ambos iriam saborear este amargo travo nas suas bocas. E viveram (in)felizes para sempre?


Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos.