sábado, 23 de agosto de 2008

Silvia

-Oh parvo, queres ou não ser o meu par no trabalho de grupo??

Era assim a Silvia. A tipica rapariga Patinho Feio mas muito inteligente. Nenhum dos meus colegas olhava para ela como mulher, nos olhos deles ela tinha bastantes defeitos físicos e vocês sabem como são cruéis os adolescentes a avaliar as raparigas. Penso mesmo que as hormonas lhes provoquem algum tipo de cegueira...

Entre nós existia alguma cumplicidade, ela notava que eu a olhava de forma diferente, e aliado a isto sempre existiu alguma competição saudável para ver quem tinha melhor aproveitamento escolar.

Na altura, sentimentalmente, eu procurava apenas quem não me queria nunca e sempre me fazia muito mal, ou seja vivia constantemente gozado e mal tratado. Ela dava-me sempre apoio, deixando-me uns poemas escritos no meu caderno. Fui demasiado cego para ver o óbvio...

Os anos lectivos passaram, entretanto entrámos ambos na universidade, separados por 200 kilómetros. Mas como tirei a carta de condução, o nosso convívio melhorou muito com a independência adquirida.


No fim de semana, quando regressávamos a casa, ela esperava sempre por mim para sairmos ao Sábado de noite, envergando as habituais roupas provocantes aliadas ás suas poses não menos quentes...


Engraçado como as memórias agora retornam á minha mente. Lembro-me como te convidei para dançar naquela festa de aniversário, na primeira vez que saí de carro sozinho, e como resposta levei um rotundo NÃO! Tu eras mesmo assim, a tua boca dizia não, mas eu teimava que sim!

Passado cerca de um ano, servindo de seu motorista, levando-a a concertos, a visitar a Expo 98, á estreia do filme Titanic, naquela sala com 300 pessoas onde choraste tanto. Mas algo iria mudar...

Constatei que quando íamos ao Bar Cave, que tu tinhas o hábito de desaparecer da minha vista, deixando-me ali sozinho. Sentia-me que nem isco numa baía infestada de tubarões. Tantas pessoas que, em nada tinham a haver comigo, me rodeavam e me obsevavam como se fosse um ET naquele espaço. Pessoas para quem meia dúzia de palavras serviriam para dar um beijo ou ter uma relação sexual, apenas pela parte física. Nunca tinha sido assim, e sentia-me terrivelmente deslocado, como um peixe fora de água!

Nisto, imaginava que tu estavas com outra pessoa e os ciúmes nasceram em mim. Sentia-me apenas um mero motorista, fiquei magoado contigo. Apesar de nessa altura já gostar muito de ti, sentia-me atraiçoado na minha amizade contigo. Talvez injustamente, sentia-me na obrigação de te reclamar algum tempo de antena, alguma atenção da tua parte, como sempre tínhamos tido, como sempre te tinha dado!

Não sei se deste conta destes ciúmes, mas certo dia, sem qualquer aviso, fui a tua casa, como num qualquer sábado. Apareceu a tua mãe, dando o recado de que estavas com uma depressão. Nunca mais me falaste, ainda te revi um par de vezes, uns olhares trocados, nenhumas palavras e um teu querer fugir de mim, como se eu fosse algo de muito mau na tua vida.

Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Inês


A Inês era uma daquelas conhecidas que sempre fora uma femme fatale, daquelas mulheres que adoram seduzir, que trocam de relação como quem troca de camisa, sempre ansiosa pela adrenalina da conquista. Qualquer conversa tinha de ser terminada a falar de homens, e as suas relações com eles. Procurava-os como se o nosso planeta estivesse deserto e ela estivesse incumbida de perpetuar a raça humana.

Este tipo de mulher nunca fez o meu tipo, e assim, sempre a fui observando com o escudo da amizade para não acabar sendo apenas mais um presa nas garras dela.

Muita da culpa era dos seus pais, novos ricos, muito empenhados em lhe arranjar um casamento de conveniência para aumentar o seu estatuto social. As amigas tentavam mudar esta sua natureza, e os seus namorados, querendo não serem apenas mais uns, todos tentaram mudá-la sem sucesso.

Até que um dia....... Apareceu o João. Católico muito praticante, sempre disposto a pregar a todos, até aos peixes, a cada duas frases que ele debitava da sua boca, uma era citação da Bíblia. Tinha sempre uma solução para tudo e todos, e essa solução passava obrigatoriamente por uma maior devoção á Igreja.

Conseguem imaginar uma mulher como a Inês, namorando o Santo João?

A Inês acabou por ceder, tornou-se uma imagem do João, repetindo citações bíblicas qual disco riscado... Deixou de coleccionar homens! Passados poucos meses, decidiram deixar uma carta a cada familia, e desapareceram para parte incerta, dizendo que ambas as familias não dignificavam os valores de Deus. Há quem afirme estarem no Brasil, há quem os tenha visto numa estação de metro do Rossio, outros dizem ainda que estão numa qualquer seita... O certo é que nem investigadores privados os descobriram.

Afinal a mulher que era um diabo nas relações, era agora uma santa devota da Igreja e do seu João. Ele tinha feito o que mais ninguém se tinha lembrado:

O homem que move montanhas, começa carregando pedras pequenas.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Diana

A Diana é alguém surpreendente, alguém especial, alguém impressionante...
Sabem o que é sentir que têm perante vós a pessoa mais perfeita para o vosso feitio?
Ora pois bem, pode-se considerar que a Diana é o yin do meu yang.
Tem tudo o que eu poderia desejar num par ou num complemento para a minha existência.
Passando por uma vida complicada, viu-se muito cedo atirada na vida, no fim de uma relação, com o pequeno Diogo nos braços.
Isso, obviamente que a forçou a crescer mais rapidamente que o habitual.
Contudo, foi um crescimento forçado e partes de si não acompanharam o seu desenvolvimento.
Lutadora, energética, sorridente, amiga, meiga, confidente, entre tantas outras caracteristicas maravilhosas.
Mas a Diana tem um segredo que só a mim revelou, uma vez que o vi nos seus olhos e no seu interior...
Lá dentro existe um buraco, um vazio, uma solidão... Medo...
Medo de se desiludir, medo de se apaixonar e de ter de se acomodar posteriormente novamente (como actualmente).
Para evitar isso, ela foge inconscientemente de uma proximidade mais intima.
Aos poucos e com a minha ajuda, sei que conseguirá recuperar a confiança em si e nos outros...
Leve o tempo que for preciso. Um dia conseguirei e ela vai brilhar...
Brilhar alto no céu, ofuscando todas as estrelas em seu redor.
E aí ficarei em paz comigo mesmo.
Ela estará feliz e eu terei conseguido atingir mais um pouco da minha felicidade.

A nossa felicidade não passa unicamente por nós... Mas é em nós que começa...