terça-feira, 4 de novembro de 2008

Katherine

"Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu???"

Era uma vez uma bela rapariga de ascendência francesa... Katherine vivia no seu castelo, tentando fazer da sua vida um conto de fadas com final feliz.

Alta, esguia, cabelos loiros de que tinha o prazer de estar constantemente a mexer. Estava no final da adolescência, quando se via no espelho, a sua pose lembrava o busto de Marianne, heroína enérgica, guerreira, pacífica, protectora e maternal da pátria francesa. Ao vê-la entrar na sala, dentro da minha cabeça, soavam sempre estas palavras:


Liberté, Egalité, Fraternité!


Vestia-se como uma princesa, ora com lindos vestidos cheios de transparências (não tinha qualquer vergonha do seu corpo), ora com alguns fatos da mais alta costura francesa. Como ela mesmo dizia, as melhores coisas da vida têm sempre de vir muito bem embrulhadas.

Katherine tinha dois pretendentes. António, que provinha de muito boas famílias, primos afastados da Casa Real de Portugal, frequentava o castelo sempre a convite dos pais da bela princesa. Eles sempre desejaram que a filha contraísse matrimónio com ele, sonhando com a possibilidade de algum titúlo Real. Mas a corte de António contemplava muitas princesas, e para ele esta era mais uma apenas.

E existia também o Pedro. Moço muito comum, roçando o banal, sempre tinha dedicado a sua vida a amar Katherine. Ela era realmente a Rainha do seu Castelo a quem dedicava toda a vida. A quem dedicada todas as rosas que lhe oferecia diariamente. Apesar dos pais dela não gostarem muito da sua presença, a vontade da sua preciosa filha prevalecia. Katherine via no Pedro algo garantido, amava-o mas sabia que o amor dele estava certo, tão certo como a Lua vir brilhar na noite após o Sol adormecer. Há muito tempo que andavam a adiar a sua primeira relação, dizendo esperar por aquele momento mágico. O Pedro não pressionava, sabia no seu coração que a iria amar para sempre, e que teria todo o tempo do mundo para esperar por tão especial noite.

Mas nem sempre a Lua vem e numa certa noite o céu estava nublado e a Lua não apareceu...


Depois de imensas lavagens cerebrais, por parte dos seus pais, Katherine começa a acreditar realmente que o Pedro não seria o melhor para ela. António apercebeu-se deste ponto fraco, e no melhor estilo de Shakespeare, montou um pequeno teatro onde mostrou que era muito melhor do que o Pedro.

Este, estupidamente, não se apercebeu desta manobra, e ao continuar com a sua rotina, começou a sentir Katherine cada vez mais fria e irritada com ele. Ao sentir-se traído, depois de tantos anos de dedicação, ripostou, o que ainda o afastou mais da sua Rainha.

Então o António fez a sua jogada de Xeque-Mate, tombou o Rei Pedro, tornou-se ele mesmo o Rei do Castelo de Katherine. Criou artificialmente um ambiente especial e logo se apressou a pressioná-la para a sua primeira vez. Ela cedeu...

A armadilha tinha funcionado, dias depois foi a vez do António ficar frio e irritado com Katherine, até que se afastou por completo dela. Na sua bagagem já levava mais uma conquista e a importância de ter sido o primeiro homem dela. Semanas mais tarde, Katherine, voltou a falar com Pedro, profundamente arrependida de se ter entregue a um vigarista, pedindo a Pedro que este voltasse, dizendo que só ele tinha direito a ser o primeiro, como se uma pedra lançada, uma palavra dita ou uma oportunidade perdida pudessem voltar atrás.

Pedro já não era o mesmo doce, vivia agora na amargura de ter dedicado anos á sua princesa e esta o ter trocado por um aldrabão sem nunca ter sido sincera com ele, apenas o afastando da sua vida sem qualquer explicação. Durante anos, separados, ambos iriam saborear este amargo travo nas suas bocas. E viveram (in)felizes para sempre?


Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos.

sábado, 20 de setembro de 2008

Cristina Marques

A Cristina foi mais uma daquelas mulheres que respondeu ao meu anúncio, colocado em meados da minha adolescência. Residia na cidade da Sopa da Pedra, nomeadamente, em Almeirim.

Fomos travando conhecimento através de sms, e alguns esporádicos telefonemas, nos quais ela sempre me afirmava, tão tipicamente, que apenas ligava ao interior e aos sentimentos das pessoas. Não importava como eu fosse, sabia que eu era muito belo interiormente, e para ela, isso bastaria, ficando decidido que não seria necessário trocar fotografias antes...

Tanta vez ouvi aquela lenga-lenga que acabei por acreditar nisso mesmo. Algumas semanas passaram e lá marcámos encontro. Viajei até Almeirim, encontrando facilmente aquele café chamado O Campino. Entrei e logo me pareceu apropriado tal titulo dado ao café. Estava frequentado por um tipo de gente que mais se parecia com uma típica cena Ribatejana.

Imensas vacas e vitelas, polvilhadas aqui e acolá de alguns touros, que faziam aquilo para que estão geneticamente programados: Tentar acasalar, transmitindo os seus corruptos genes; e afastar os possíveis concorrentes ás suas fêmeas.

De certo que eu não seria o Campino que iria dominar aquele gado bovino... Procurei uma mulher sozinha, e lá a encontrei numa mesa, timidamente encostada a um canto, de costas para a TV que transmitia um jogo sem qualquer interesse da Liga Nacional. O sinal combinado para nos reconhecermos seria uma rosa vermelha em cima da mesa.

Disse-lhe olá, sou o Pedro, e logo nos olhos dela saboreei o travo amargo da desilusão...

É impressionante como num único segundo, todas aquelas promessas que ela tinha feito antes, se desvanesceram, tudo aquilo que ela dizia ver de bom em mim foi superado com um simples olhar e um simples julgamento fisíco do aspecto exterior.



Eis o mundo onde vivemos hoje em dia, para se ser bonito interiormente teremos de o ser também exteriormente, como se uma boa prenda de Natal não pudesse vir num embrulho menos bonito? Não valerá a pena abrir o embrulho para ver o que realmente está lá dentro?

Passados cinco minutos de uma insuportável conversa de treta sobre o tempo e outras coisas fúteis, ela transformou-se em mais uma vaca á espera de um qualquer Touro rude com um embrulho bonito e lá fugiu, deixando para trás uma óbvia desculpa esfarrapada...

Antes de a outro julgares, julga-te a ti mesmo!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Joana Afonso


Quinze anos. Aquela idade do armário, no meu caso, poderia-se chamar a idade do ilusão. Iludia-me frequentemente sobre o sexo oposto. Bastava uma rapariga ter um gesto mais simpático para mim, e voilá, na minha cabeça, já tinha casamento marcado com ela. Aparte desta minha veia de realizador, pelas tramas dignas de filmes que imaginava, era um rapaz muito timido, pouco seguro de si, não me conseguindo expressar ao mundo.

Até que surgiu a Joana Afonso, uma jovem de 13 anos, muito madura para a idade, que me despertou o gosto pela escrita. Era assim que nos comunicávamos. Estávamos em 1994, não existia ainda o e-mail, e assim, utilizávamos a carta escrita á mão. As minhas cartas começaram por ser breves linhas agrupadas num parágrafo. Mas com o crescendo da recepção de respostas, essas linhas transformaram-se em imensas folhas escritas diariamente. Ficou para sempre, até hoje, este prazer de me expressar por carta, blog ou e-mail.

Joana foi o meu primeiro amor platónico correspondido. Estranho? Eu explico... Eu resido na Lezíria Ribatejana e a Joana residia no Arquipélago da Madeira. Ora aqui estava um obstáculo difícil de ultrapassar para um adolescente de 15 anos nos anos 90! Devido a isso, limitámos o nosso sentimento ás cartas e a alguns ocasionais telefonemas.

Pela primeira vez, sentia algum tipo de amor, ainda muito inocente da minha parte, como se fosse um tímido e fraco raiar de luz por entre um dia nublado. Tive um brevíssimo vislumbrar deste maravilhoso mundo do sentimentalismo.

O que tivemos, não sei categorizar, durou cerca de 2 meses, no final dos quais tu simplesmente disseste por telefone que não dava mais. E o meu mundo desabou! Não me abandonaste, é certo, ficaste lá para me apoiar, mas a minha ilusão tinha terminado, e dado inicio a um longo período de tentativa-erro sentimental, um calvário de 8 anos.

Naqueles dias que se seguiram a esta noticia, chorei lágrimas, tantas, que desconhecia armazenar tal quantidade dentro de mim. Durante dias usei óculos de Sol, ninguém me podia ver a chorar, na minha cabeça apenas ecoava a musica The show must go on dos Queen... Um novo eu acabara de nascer, e tal como um recém-nascido, a minha primeira manifestação neste mundo sentimental era chorar imenso.
Whatever happens, I'll leave it all to chance
Another heartache, another failed romance
I guess I'm learning, I must be warmer now
I'll soon be turning, round the corner now
Outside the dawn is breaking
But inside in the dark I'm aching to be free
The Show must go on

sábado, 23 de agosto de 2008

Silvia

-Oh parvo, queres ou não ser o meu par no trabalho de grupo??

Era assim a Silvia. A tipica rapariga Patinho Feio mas muito inteligente. Nenhum dos meus colegas olhava para ela como mulher, nos olhos deles ela tinha bastantes defeitos físicos e vocês sabem como são cruéis os adolescentes a avaliar as raparigas. Penso mesmo que as hormonas lhes provoquem algum tipo de cegueira...

Entre nós existia alguma cumplicidade, ela notava que eu a olhava de forma diferente, e aliado a isto sempre existiu alguma competição saudável para ver quem tinha melhor aproveitamento escolar.

Na altura, sentimentalmente, eu procurava apenas quem não me queria nunca e sempre me fazia muito mal, ou seja vivia constantemente gozado e mal tratado. Ela dava-me sempre apoio, deixando-me uns poemas escritos no meu caderno. Fui demasiado cego para ver o óbvio...

Os anos lectivos passaram, entretanto entrámos ambos na universidade, separados por 200 kilómetros. Mas como tirei a carta de condução, o nosso convívio melhorou muito com a independência adquirida.


No fim de semana, quando regressávamos a casa, ela esperava sempre por mim para sairmos ao Sábado de noite, envergando as habituais roupas provocantes aliadas ás suas poses não menos quentes...


Engraçado como as memórias agora retornam á minha mente. Lembro-me como te convidei para dançar naquela festa de aniversário, na primeira vez que saí de carro sozinho, e como resposta levei um rotundo NÃO! Tu eras mesmo assim, a tua boca dizia não, mas eu teimava que sim!

Passado cerca de um ano, servindo de seu motorista, levando-a a concertos, a visitar a Expo 98, á estreia do filme Titanic, naquela sala com 300 pessoas onde choraste tanto. Mas algo iria mudar...

Constatei que quando íamos ao Bar Cave, que tu tinhas o hábito de desaparecer da minha vista, deixando-me ali sozinho. Sentia-me que nem isco numa baía infestada de tubarões. Tantas pessoas que, em nada tinham a haver comigo, me rodeavam e me obsevavam como se fosse um ET naquele espaço. Pessoas para quem meia dúzia de palavras serviriam para dar um beijo ou ter uma relação sexual, apenas pela parte física. Nunca tinha sido assim, e sentia-me terrivelmente deslocado, como um peixe fora de água!

Nisto, imaginava que tu estavas com outra pessoa e os ciúmes nasceram em mim. Sentia-me apenas um mero motorista, fiquei magoado contigo. Apesar de nessa altura já gostar muito de ti, sentia-me atraiçoado na minha amizade contigo. Talvez injustamente, sentia-me na obrigação de te reclamar algum tempo de antena, alguma atenção da tua parte, como sempre tínhamos tido, como sempre te tinha dado!

Não sei se deste conta destes ciúmes, mas certo dia, sem qualquer aviso, fui a tua casa, como num qualquer sábado. Apareceu a tua mãe, dando o recado de que estavas com uma depressão. Nunca mais me falaste, ainda te revi um par de vezes, uns olhares trocados, nenhumas palavras e um teu querer fugir de mim, como se eu fosse algo de muito mau na tua vida.

Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Inês


A Inês era uma daquelas conhecidas que sempre fora uma femme fatale, daquelas mulheres que adoram seduzir, que trocam de relação como quem troca de camisa, sempre ansiosa pela adrenalina da conquista. Qualquer conversa tinha de ser terminada a falar de homens, e as suas relações com eles. Procurava-os como se o nosso planeta estivesse deserto e ela estivesse incumbida de perpetuar a raça humana.

Este tipo de mulher nunca fez o meu tipo, e assim, sempre a fui observando com o escudo da amizade para não acabar sendo apenas mais um presa nas garras dela.

Muita da culpa era dos seus pais, novos ricos, muito empenhados em lhe arranjar um casamento de conveniência para aumentar o seu estatuto social. As amigas tentavam mudar esta sua natureza, e os seus namorados, querendo não serem apenas mais uns, todos tentaram mudá-la sem sucesso.

Até que um dia....... Apareceu o João. Católico muito praticante, sempre disposto a pregar a todos, até aos peixes, a cada duas frases que ele debitava da sua boca, uma era citação da Bíblia. Tinha sempre uma solução para tudo e todos, e essa solução passava obrigatoriamente por uma maior devoção á Igreja.

Conseguem imaginar uma mulher como a Inês, namorando o Santo João?

A Inês acabou por ceder, tornou-se uma imagem do João, repetindo citações bíblicas qual disco riscado... Deixou de coleccionar homens! Passados poucos meses, decidiram deixar uma carta a cada familia, e desapareceram para parte incerta, dizendo que ambas as familias não dignificavam os valores de Deus. Há quem afirme estarem no Brasil, há quem os tenha visto numa estação de metro do Rossio, outros dizem ainda que estão numa qualquer seita... O certo é que nem investigadores privados os descobriram.

Afinal a mulher que era um diabo nas relações, era agora uma santa devota da Igreja e do seu João. Ele tinha feito o que mais ninguém se tinha lembrado:

O homem que move montanhas, começa carregando pedras pequenas.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Diana

A Diana é alguém surpreendente, alguém especial, alguém impressionante...
Sabem o que é sentir que têm perante vós a pessoa mais perfeita para o vosso feitio?
Ora pois bem, pode-se considerar que a Diana é o yin do meu yang.
Tem tudo o que eu poderia desejar num par ou num complemento para a minha existência.
Passando por uma vida complicada, viu-se muito cedo atirada na vida, no fim de uma relação, com o pequeno Diogo nos braços.
Isso, obviamente que a forçou a crescer mais rapidamente que o habitual.
Contudo, foi um crescimento forçado e partes de si não acompanharam o seu desenvolvimento.
Lutadora, energética, sorridente, amiga, meiga, confidente, entre tantas outras caracteristicas maravilhosas.
Mas a Diana tem um segredo que só a mim revelou, uma vez que o vi nos seus olhos e no seu interior...
Lá dentro existe um buraco, um vazio, uma solidão... Medo...
Medo de se desiludir, medo de se apaixonar e de ter de se acomodar posteriormente novamente (como actualmente).
Para evitar isso, ela foge inconscientemente de uma proximidade mais intima.
Aos poucos e com a minha ajuda, sei que conseguirá recuperar a confiança em si e nos outros...
Leve o tempo que for preciso. Um dia conseguirei e ela vai brilhar...
Brilhar alto no céu, ofuscando todas as estrelas em seu redor.
E aí ficarei em paz comigo mesmo.
Ela estará feliz e eu terei conseguido atingir mais um pouco da minha felicidade.

A nossa felicidade não passa unicamente por nós... Mas é em nós que começa...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Lilia S.

A Lilia é mais um caso de uma faca de dois gumes.
Ainda me recordo bem das primeiras vezes em que a vi.
Foi quando me inscrevi para uma entrevista e formação para o meu actual emprego.
Após aprovação na entrevista através de um teste deveras básico, ficámos ambos aprovados.
Foi tida uma formação inicial, com uma equipa de 18 elementos no qual ambos estávamos presentes.
A sua maneira de ser prendeu-me a atenção desde logo.Indicava uma certa fragilidade no seu interior, como se algo a devorasse...
Digamos que inteligência e perspicácia não são os seus pontos fortes.
Contudo, por algum motivo que me é alhieo, simpatizei com ela e optei por ajudá-la, dando-lhe umas aulas "extra-curriculares".
Explicava-lhe o conteúdo da formação e procedimentos e auxiliava-a a estudar, uma vez que era uma matéria na qual eu estava plenamente à-vontade.
Devo antes de mais acresentar, que isto foi feito com a mais inocente das intenções da minha parte.
Era mais que óbvio que sozinha ela não iria conseguir, uma vez que a formação envolvia conhecimentos bastante técnicos.
As suas notas melhoraram um pouco, contudo permaneciam muito no limiar do minimo pretendido.
Chegado o dia do exame final, eu por meios e acções não muito correctas, fiz grande parte do seu exame, dando-lhe as respostas.
Ela conseguiu assim obter uma boa nota e ficou aprovada para o serviço.
Fiquei deveras satisfeito com a minhas prestação e com o que havia feito. Ela havia conseguido...
Pensava que tinha assim arranjado mais uma boa amiga.
O tempo passando, a Lilia foi mudando... e assim foi mudando inclusive a sua atitude.
Em pouco tempo clamava que era a melhor no que fazia e que só havia conseguido única e exclusivamente graças ao seu esforço e empenho.
Posso não o ter feito para obter qualquer tipo de agradecimento, contudo a sua atitude para comigo deixou-me deveras revoltado e desiludido.
Desde tratar-me com desprezo e cinismo, até ao facto de se vangloriar a plenos pulmões que seria a melhor de toda a equipa (o que é completamente incorrecto...).
Sinceramente, sinto-me desiludido com tais actos e palavras...

Preza os teus conhecidos e acarinha os teus amigos...
... um dia irás precisar e eles não estarão lá para te apoiar e ajudar...
... até pode não estar lá ninguém sequer.

domingo, 20 de julho de 2008

Penélope

Tivemos a sorte de ter um dia de sol, ou direi antes, um fim-de-semana de sol...
Há anos que não andava de comboio... e o meu avô sempre me disse que a maneira correcta de sair com uma rapariga era de transportes públicos... a ideia foi dela... ele sempre me disse que deveria pagar o bilhete de ida e esperar que a rapariga fizesse o mesmo à volta... ela antecipou-se mesmo na ida...No dia das "primeiras vezes após anos", um sábado, o horizonte foi tomando cor com o toque da Penélope. Um toque decidido, firme, forte, com garra... mas visivelmente terno.
Ao fim do dia, quando a levava a casa e conduzia o mais devagar possível pelo prazer da sua companhia, ouvi-a dizer - Adorei este fim-de-semana... vou ter saudades. - entre ouvir a frase e chegar à porta foi apenas uma curva... parei... lembro-me nitidamente de ter pensado "Não me abraces!"... pois foi isso que a Penélope fez... abraçou-me! E nesse abraço, eu, de nariz enterrado nos cabelos dela, embriagado, perdi-me... francamente, ainda me perco só ao fechar os olhos ao pensar nesse instante... e sinto o arrepio, o desejo e o receio do beijo que se seguiu...

Estaria pronto para tal? Dois dias depois acordei violentamente ao bater na traseira de outro automóvel... confirma-se! Era um novo começo... estava apaixonado!

Cláudia

Na escola secundária havia muito o hábito de irmos para fora da escola ver a paisagem (que normalmente tinha saias ou calças justas).

Estávamos no inicio do ano lectivo adolescência e hormonas ao rubro, e os meus olhos sondavam aquela rua em busca de novas paisagens com maior atenção que um radar em plena guerra.

Subitamente, surgiu o sinal de um avistamento desconhecido a norte. Não era nenhum avião aliado, mas também não era conhecido por inimigo. Mas de facto era um avião...

Parecia deslizar suavemente apenas centímetros acima do chão. Incrível como, antes mesmo de a avistar, já via ao fundo da rua uma luz brilhante, pura e intensa, a anunciar a sua chegada. O ritmo dos seus passos mais pareciam marcar o ritmo da canção dos Doors que eu entoava na minha cabeça:

Hello, I love you
Won't you tell me your name?
Hello, I love you
Let me jump in your game

She's walking down the street
Blind to every eye she meets
Do you think you'll be the guy
To make the queen of the angels sigh?

Jovem mulher, arriscaria dizer na infância dos seus trintas, alta, esbelta, a fragância tentadora do seu perfume só era superada pelo seu hipnotizante sorriso que contagiou toda a rua. Aquela mulher fazia-se notar e muito! Subitamente, e para meu espanto, entrou na escola. Quem seria?

Era dia de apresentações mas sempre tive curiosidade de saber quem seriam os novos professores. Dirigi-me para o corredor, e aquele cheiro delicioso voltou a enebriar-me. Estaria a sonhar ou seria.... Não pode ser!

-Olá turma, chamo-me Cláudia, sou a vossa nova professora de Filosofia!

Ainda meio atordoado, sentei-me. Esta bela mulher seria a minha professora! Durante a aula apenas pude tomar atenção a toda aquela energia positiva que vibrava nela. O seu olhar terno, doce, meigo, a maneira como colocava as mãos no seu colo. A delicadeza dos seus dedos e aquele gancho do cabelo! Aquele gancho trespassava o seu cabelo enrolado na sua nuca do mesmo modo que o cupido trespassava os corações de quem a via.

Numa certa tarde de chuva, saio da escola depois da aula de Filosofia, e toda a rua parecia chorar algum amor perdido. Porém, vejo que me esqueci do manual e volto á sala. Toda a escola parecia agora morta, vazia, sem vida. Ao entrar na sala sinto novamente aquela fragância enebriante. Vi uma silhueta em contra luz em cima da secretária, imóvil, quem seria e o que faria ali a esta hora? Aproximei-me mais um pouco, e a mudança da minha posição em relação á claridade permitiu-me vislumbrá-la melhor.

Mas que raio? Era a Cláudia e estava sentada em cima da secretária. A sua saia curta, agora deixava mostrar mais um pouco os seus collants. O que faria ela ali naquela hora?

Por momentos pensei em ficar ali assim. Imóvel também, contemplando aquela bela obra de arte. Queria acreditar que se ficasse assim quieto, ela ficaria ali, só para mim, seria tão feliz assim apenas a venerá-la.

Mas os seus olhos lindos notaram a minha presença e tocaram nos meus, fiquei sem palavras, tentei articulá-las mas a lingua enrolava-se a cada tentativa. Ela percebeu, e pediu-me para me aproximar.

Sentia-me preso a este encantamento, não pude resistir. Fui até ela, parei a uns escassos centimetros. Demasiado perto para poder escapar das garras dela, mas demasiado longe do que queria realmente estar! Olhei bem para ela, consegui ver detalhes que nunca tinha visto enquanto aluno, os seus óculos davam-lhe um ar intelectual, mas o sinal estrategicamente colocado quase ao canto do lábio dava, por sua vez, um ar muito sensual.

Perguntou-me o que me trazia ali, a aquela sala, naquela hora. Apontei para o meu manual, felizmente esquecido naquela mesa. Fui buscá-lo, voltei-me novamente para ela, e ela, com o seu olhar, mostrou-me o que lhe ia dentro da alma. Senti ser uma mulher que tinha dedicado toda a sua vida ao seu trabalho, á paixão de ensinar filosofia, mas que lhe faltava algo na sua vida. O nosso diálogo era silencioso. as palavras eram desnecessárias naquela conversa, apenas iriam deturpar toda a pureza dos nossos olhares.

Dela, ouvi nos seus olhos, que tudo o que sempre tinha querido era alguém que a amasse realmente, alguém que a entendesse, e que lhe pudesse mostrar o seu papel como mulher. Senti que tinha passado muitos anos sozinha, obstinada com os seus estudos, tentando mostrar que conseguia vencer na vida, mesmo sem a ajuda de um homem.

Mas agora havia chegado a altura de o lado feminino dela reclamar o seu lugar, reconquistar a sua alma. Notava-se perfeitamente nos seus olhos.

Mas não era eu aquele que a iria salvar daquele estado. Apenas me restou sorrir para ela, de alguma forma, dar-lhe muita esperança e força. Ela sorriu de volta, assinalando que tinha percebido a mensagem.

Poucos meses depois, ela pediu transferência para outra escola, queria estar mais perto do homem que tinha despertado aquele lado dela.

Senti-me muito feliz por ter ajudado aquela jovem professora a soltar-se de todas as amarras, e a tornar-se naquilo que mais belo existe: Uma bela mulher, em cujos olhos arde a chama da paixão...

Ana S.

Boas memórias e recordações tenho desta senhora.
É daquelas pessoas cuja presença não passa despercebida.
Loura, dotada de uma boa forma fisica.
Loura... mas não tem nada de burra.
Já viveu a sua cota de situações menos agradaveis ao longo dos seus 38 anos de existencia.
Um casamento por impulso e no furor da paixão, providenciou-lhe uma nova forma de ver a vida e o mundo que a rodeia.
Meses de sofrimento e de perseguição, embutiram-lhe ume sensação de medo e deram-lhe simultaneamente uma força muito grande e vontade de saborear a vida.
Rebelde, responsavel, confiavel, com um sorriso na cara em qualquer ocasião. Senhora que luta pela sua vida, não perdendo uma oportunidade de sair com os seus amigos e divertir-se quando pode.
Mantendo sempre o seu próprio nível de responsabilidade e moderação, tornou-se naquilo que se pode considerar um exemplo a seguir...

Mesmo quando tudo parece perdido, há que saber olhar em frente, sorrir, levantar a cabeça e continuar a caminhada...

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Marcia P.

O que dizer sobre esta jovem?
Palavras não conseguem bem definir o que vai no seu interior.
Dotada de uma inteligencia e sensibilidade além do habitual.
Reune muitas das caracteristicas daquilo que muito ambicionam ser um dia.
Lutadora, Bonita, Inteligente, Respeitadora e sempre com uma palavra amiga para dizer.
Usa a cabeça e não age por impulsos.
Uma vida com um boa base de partida.
Um curso tirado e com muito boas notas...
Uma familia que a adora e que ela adora igualmente.
Um aqui semi-primo com quem conviveu grande parte da sua vida até à uns anos.
Desde pequenos que brincámos juntos, partilhando parte da nossa vida e das nossas experiencia.
Partilhando gostos comuns e partilhando ideias.
Contudo...Detentora de uma vivência pouco solidificada.
Pouco conhecedora do mundo que expreita em cada esquina.
Alvo facil para os predadores que expreitam nesta sociedade.
Até à data, valeu-lhe a sua cabeça e o seu descernimento.
Abriga-te rapariga, protege-te e ganha defesas...
O mundo não é cor de rosa.
Viveste toda a vida numa casa de beijos, e nessa casa persistes.
Protegida numa redoma que impede que eles entrem...
Mas os predadores aguardam que saias para a luz para te atacar impiedosamente.

Interrogo-me...
saberás distinguir quem são os predadores quando chegar a altura?

Patricia G.

A patricia é alguem muito especial.
Vê-se nos seus olhos penetrantes e meigos...
Vê-se no seu sorriso arrebatador...
Sente-se na sua presença que inunda o espaço onde se encontra com uma nitida sensação de bem-estar.
Senhora de poucas palavras mas com muito para dizer...
Uma forma muito invulgar de interpelar as pessoas, mas muito sua e agradavel.
Recordo-me bem das primeiras palavras que me dirigiu online...
"Olá paspalho"...
Digamos que teve uma aproximação deveras curiosa, mas contudo, foi bem interpretada.
Senhora que diz o que sente quando acha que assim o deve fazer, não que adultere ou diga que sente o que não é real...
mas abstem-se de comentar até que ache que o momento é oportuno.
Senhora reservada, mas com muito para oferecer...
E até uma simples palavra como paspalho, na sua voz melodiosa parece um elogio.
E quem ouve as palavras, ouvindo apenas as suas letras, não entenderá a profundidade dos seus sentimentos... contudo, quem ouvir com o coração, sentirá que é um cumprimento caloroso.
E a essa senhora deixo hoje a minha homenagem por ser uma flor rara como é dificil de encontrar hoje em dia.

Uma flor a preservar... Flor de Lotus

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Leila

Quiz o destino que por influência de um amigo, numa altura menos boa da minha vida, cruzasse caminhos com a Leila.
As intenções desse amigo, eu sempre soube quais eram e eram nobres, libertar-me de um circulo de auto-comiseração que me consumia...
Entre umas saídas nocturnas, fomos parar ao café onde já não ia há muito tempo.
Meus velhos conhecidos... todos lá presentes...Mas havia uma cara nova... uma cara excluída por todos eles...Os avisos foram muitos, "não te aproximes, está destinada a ser posta de lado..."
Tais comentários caíram-me como ofensivos, apesar de não serem relativos a mim..."Não me fio pelo que me dizem... e sim pelo descubro e sei por mim mesmo..."
Levantei-me e fui ter com ela... o seu nome era Leila e era aquilo que se pode chamar um corpo escultural e uns olhos capaz de nos devorar a alma...
Convidei-a para se juntar a nós... sorrindo com receio, aceitou e foi para junto de nós...Estando comigo, ninguém lhe faria nada... eu não permitiria e eles não se atreveriam...
Eles não lhe davam confiança, mas não a tratavam mal ou qualquer coisa do género comigo presente.
Era já tarde, ofereci-lhe boleia e levei-a a casa...
Várias noites passaram, nos qual me juntava a eles e ela a mim...
Aos poucos e de forma inconsciente, fui saíndo da fase negra em que me encontrava.
Começava a nutrir sentimentos algo que diferentes por ela... o meu carinho aumentava...
Uns tempos depois e lentamente, fui-me afastando mais deles e aproximando cada vez dela...
Cada vez mais ia sorrindo, ia recuperando a confiança em mim mesmo...
Mas aos poucos fui percebendo que nem tudo é o que parece...
E que por vezes os conselhos dos outros, há que considerá-los um pouco pelo menos...
O interesse dela aumentava, não por mim, mas pelo que podia fazer por ela...pelo meu carro, pelo "chofer de serviço", pela carteira...
Em bom tempo, meti um travão antes que perdesse o controlo...
A Leila hoje em dia, encontrou e caçou um tipo como o que procurava... (um papalvo)
Dela, tenho boas recordações apesar do seu interesse obvio nas minhas "capacidades"...
Mesmo tendo sido " um parvo", dei o beneficio da duvida e nao me censuro por nada...
Sei que lhe dei uma oportunidade... e graças a isso, inconscientemente, o meu circulo de auto-comiseração foi quebrado...

Apesar de falsa, guardo-te com carinho na minha memória Leila.
As tuas opções de vida são só tuas e tens de lidar com os actos e as suas consequencias...

domingo, 6 de julho de 2008

Manuela

Nunca o cavalo de prata deu tanto de si nas minhas mãos...


Ao telefone disse-me que eu estaria a 15 minutos daquele sítio... demorei metade a lá chegar. A curiosidade moveu-me até ali. Esperava, olhando nervoso em todas as direcções... andava de um lado para o outro como se isso a fizesse chegar mais cedo! Senti-me observado, um olhar fixava-me a nuca... tinha a certeza que sim!... voltei-me e vi-a. Era ela! Era ela quem me olhava... aquele passo da sua caminhada interrompido... nunca o hei-de esquecer... voltando para trás contornando um obstáculo vidrado pelo qual nos observávamos. Encontrámo-nos... e partimos dali...
Estava apavorado, ou seria encantado, enquanto caminhávamos lado a lado falando, ouvindo, rindo, apreendendo e aprendendo o ser que o outro era... eu ainda tinha uma promessa a cumprir! Peguei-lhe ao colo em forma de teste... um teste que fazia a mim mesmo, para saber o que ia dentro de mim, para saber quem era ela, o que era ela. Era leve, poderia dizer que era perfeita, e no momento em que lhe peguei ao colo, soube que não era eu quem a segurava... era ela que me prendia a si... prendeu-me no momento em que se deixou segurar...

sábado, 5 de julho de 2008

"Gata"

Foi assim que a conheci, era o único nome a qual respondia... Gata... quase que uma construção mental de uma pessoa, um esboço, composta por curvas encadeadas que fui colocando na minha mente enquanto do outro lado de um túnel de fibra óptica estava uma pessoa real... Gata... Seria semelhança com o felino propriamente dito? Ocorria-me a famosa, e fascinante, arte de brincar com os ratos... seria eu o rato encurralado a um canto por entre frases de uma gata?...
Às curvas fui adicionando pormenores de personalidade, traços e características, tiques, comportamentos, formas de sentar, de estar à mesa, de pegar numa chávena de café... de como mexeria no cabelo do qual desconhecia o comprimento... Gata!













Acabei por a conhecer... meses mais tarde, e do esboço que fiz, nada tinha a ver com a realidade... nem olhar felino, nem tiques, nem a forma de pegar na chávena... nem sequer gostava de café! Um pouco à semelhança de quem usa dinamite... ela usava a sua própria imaginação para ser alguém.

A Gata nunca o foi.